terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

CAPÍTULO 02 - Zé Rubens, o imperador - Parte 1

 

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Zé Rubens, o imperador - Parte 1

 

Carregado de munições e recrutas, o velho caminhão Studebaker 1940 dá a partida. Os soldados do 10º. Regimento de Infantaria iniciam a grande marcha. O motorista do Studebaker tinha apenas três meses de farda quando recebeu o chamado do comandante da sua companhia e assumiu o volante do caminhão. 

 

Ao passar pelas ruas de Juiz de Fora com o comboio formado por uma boa quantidade de ônibus emprestados pelos empresários locais, o motorista acena para a mãe, que se derrama em prantos pelo filho a caminho da guerra. Ao sair da cidade, eles seguem pela Estrada União Indústria rumo ao Rio de Janeiro. Só no meio da marcha eles se dão conta que são revolucionários. Aviões da Força Aérea Brasileira despejam panfletos falando da rebeldia do povo mineiro.

 

Uma parte do Destacamento Tiradentes procura pontos nas montanhas para rechaçar um eventual revide de tropas governistas. Os soldados recebem ordens para cavar trincheiras. Canhões são posicionados no caminho. O plano original é partir na calada da noite, tomar o QG do Exército no Rio de Janeiro e dar o bote em João Goulart no Palácio das Laranjeiras com um só pelotão. Uma vitória rápida e completa.

 

No início da noite do dia 31 de março de 1964, seis horas após o início da arrancada, a tropa estaciona na ponte do rio Paraibuna, na divisa de Minas Gerais com o Rio de Janeiro. De um dos veículos salta um soldado, se dependura na ponte e espalha dinamite em toda a sua estrutura. A ponte está preparada para ser detonada caso as tropas do Rio de Janeiro não queiram aderir ao movimento. Quando os blindados chegam na calada da noite, a tropa se enche de moral.

 

     – Podem vir até os yankees que a gente põe pra correr!

 

Os yankees não vêm, mas, na madrugada do dia 1º. de abril, chegam de Petrópolis os tenentes do 1º. Batalhão de Caçadores, unidade mais próxima dos rebeldes. Porém, não acontece o confronto e sim a adesão ao Destacamento Tiradentes. Ao amanhecer, nova possibilidade de combate com a chegada do 1º. Regimento de Infantaria do Rio de Janeiro, com viaturas em ótimo estado. Mais uma vez, nenhum tiro.  A principal unidade escalada pelo governo para a reação acaba aderindo ao movimento. Começa o deslocamento.

 

Sob o comando do então general de brigada Emílio Garrastazu Médici, a Escola de Formação de Oficiais da Academia Militar das Agulhas Negras mobiliza os cadetes, professores e pessoal de serviço para bloquear o Vale do Paraíba, por onde as forças do 1º. Exército, leais a Jango, avançarão contra São Paulo. Ao todo, mais de dois mil homens. Às sete horas da manhã, uma bateria de canhões, escalada para dar cobertura aos regimentos de infantaria leais ao governo, sai de Itu em direção a São Paulo. A ordem é apoiar o deslocamento do 4º. Regimento de Infantaria, na Estrada São Paulo-Rio, atual Via Dutra. O Regimento, entretanto, não se encontra lá porque tinha sido impedido de marchar para a região de Resende.

 

A bateria de canhões avança para Resende e chega na Academia Militar das Agulhas Negras no meio da tarde. Deveriam substituir os cadetes, às margens da rodovia, o que não se faz necessário porque as forças do 1º. Exército não ultrapassam a região da Serra das Araras. Os oficiais legalistas se rendem ou se aliam aos revoltosos. Duas baterias do Grupo Escola de Artilharia avançam pela estrada e se juntam aos cadetes. 

 

Quando os caminhões apontam numa reta da rodovia, acontece o prenúncio do confronto, mas nenhum tiro é disparado. Eles passam para o lado dos revoltosos, antes de se apresentarem ao general Médici. Se ocorresse o confronto, seria um massacre! Seria uma luta desigual porque as forças do 1º. Exército eram muito superiores às dos revoltosos, com uma organização semelhante às dos militares norte-americanos, efetivos completos, muita munição e excelente armamento.

 

No mesmo dia 1º. de abril a paz é firmada. De acordo com as informações da Cadeia da Legalidade, uma rádio montada pelo governador gaúcho Leonel Brizola para apoiar João Goulart, haveria resistência às tropas rebeladas de Minas e de São Paulo. Horas depois, essas informações caem por terra. A Cadeia da Legalidade entra no ar com a notícia de que Goulart havia “fugido” de Brasília para Porto Alegre e dali para o Uruguai.

 


 

Continua na próxima quarta-feira

 

 






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